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Arquitetos: FATHOM
- Área: 63 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Tatsuya Tabii

Descrição enviada pela equipe de projeto. A área próxima aos trilhos elevados da ferrovia — parte da infraestrutura que torna esta região altamente conveniente, com entroncamentos rodoviários e estações de trem concentradas — carrega certa solidão, como se fosse o “verso” da cidade, deixado para trás em meio ao desenvolvimento, marcada por fábricas e galpões.

Este projeto consistiu na reforma de um imóvel de baixo aluguel para abrigar um salão de cabeleireiro no térreo de um edifício localizado nessa área. Apesar do cenário degradado, o ponto é privilegiado, com um espaço comercial murado e uma área semiaberta utilizada para estacionamento e outras funções. Como o casal de proprietários atua como cabeleireiro e cabeleireira, ambos desejavam montar seu próprio salão em um único espaço. Considerando que a esposa atende majoritariamente clientes da mesma faixa etária, o espaço comercial murado existente foi transformado em um salão privativo com apenas uma cadeira e um espaço para crianças, enquanto a área semiaberta se tornou o espaço de atendimento do marido.




Essa área semiaberta, situada no primeiro pavimento, encontra-se atrás da infraestrutura de dois inquilinos vizinhos. Esse “espaço excessivo” — corroído e deslocado por diversos elementos — acaba refletindo a atmosfera da cidade como um todo. Ao conceber o salão de cabeleireiro, pensamos que a justaposição do novo ao antigo criaria um novo “frente e verso”. Assim, o novo espaço seria sofisticado, adequado ao contexto, mas com um tipo de zona de transição que impediria um confronto direto entre os dois, mantendo o equilíbrio da cidade e elevando seu padrão. Essa era uma problemática intrínseca ao local — e, de forma natural, levou-nos a focar em um ponto específico desse espaço.

A parede externa de blocos de concreto e a cobertura translúcida de chapa ondulada, posicionadas à esquerda da fachada, foram exigências do proprietário do edifício para garantir o acesso ao aquecedor de água, localizado nos fundos. Esse espaço comum foi reinterpretado como uma sunroom (jardim de inverno), preenchida com vegetação, marcando a transição entre o antigo e o novo. A função de salão foi incorporada de forma sutil, e esse espaço passou a funcionar como paisagismo interior/exterior frente ao ambiente urbano degradado.


A parede externa que separa o edifício antigo do novo segue uma linha suave, sem ângulos acentuados, acomodando-se ao espaço comum. Os materiais empregados — em tons e texturas de cinza e bege — são industriais, escolhidos para que a forma futurista do projeto não se destaque excessivamente, mas se integre naturalmente ao entorno. Os elementos funcionais do salão — como a bancada e os espelhos — são delicadamente confeccionados em aço, com acabamento plano e pintura em um tom único de verde, estabelecendo uma relação visual com as plantas da sunroom.

O nome do salão, “nuru”, significa “repintar”. Assim como a área sob os trilhos elevados apresenta sinais de ferrugem e desgaste, o próprio imóvel no térreo é marcado pela sobreposição de infraestruturas antigas e novas. Esperamos que esta cidade, marcada por um desenvolvimento que frequentemente a deixou para trás, vá sendo gradualmente enriquecida — em cor, vida e significado —, sendo “repintada” ao longo do tempo.












